Divórcio
Os meus pais são divorciados, faz em agosto quatro anos. Pode parecer
algo simples, mas não é.
Lembro-me desse dia. O meu avô tem uma casa grande no Magoito, da qual o
meu pai gosta muito. Nesse fim de semana, o meu pai havia ficado fora, tinha
ido para lá, pensar.
Não me lembro bem como, mas eu sabia que havia algo errado.
Passei o dia com dores de barriga, nervos. Não era confortável, eu era
criança, tinha nove anos e a sensação não era boa.
O meu pai chegou a casa, pela tarde. Ele passou pelo quarto onde dorme
ainda hoje, encontrou-me na cama, enrolada como uma pequena bola, pelas dores.
Fiz-lhe uma pergunta sobre uma possível separação entre ele e a mamã, mas não
obtive resposta.
O jantar foi algo constrangedor e silencioso, mas não queria que
acabasse, pois o pior estava para vir.
No fim do jantar, desligou-se a televisão e conversámos. Chorei. Chorei
durante horas e, por uma semana, todos os dias me trancava na casa de banho
para chorar.
Não foi fácil na altura, eu chorei muito. Hoje em dia não me faz
diferença. Tenho guarda partilhada, o que me permite ver e interagir com os
dois da mesma forma.
A minha família aumentou, tenho mais um pai, que tem uma filha, e tenho
uma madrasta, que tem duas filhas e um neto.
Isto mudou-me muito, fez-me crescer e aprender.
Carolina
Antunes
1 comentário:
Parabéns pelo texto, Carolina!
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