segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Jorge Amado: nos 120 anos do seu nascimento - um cartaz


Jorge Amado: nos 120 anos do seu nascimento

Jorge Amado nasceu a 10 de agosto de 1912 na fazenda Auricídia, em Ferradas, município de Itabuna, no sul do Estado da Baía, no Brasil. Filho do "coronel" João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado, foi com apenas um ano para Ilhéus, onde passou a infância. Mudou-se para Salvador, onde passou a adolescência e entrou em contato com muitos dos tipos populares que iriam marcar a sua obra. Aos 14 anos, começou a participar na vida literária de Salvador, sendo um dos fundadores da Academia dos Rebeldes, um grupo de jovens que (juntamente com os do Arco e Flecha e do Samba) desempenhou um importante papel na renovação das letras baianas.
 
Entre 1927 e 1929, foi repórter no "Diário da Bahia", época em que também escreveu na revista literária "A Luva". Estreou-se na literatura em 1930, aos dezoito anos, com a publicação (por uma editora do Rio de Janeiro) da novela "Lenita", escrita em colaboração com Dias da Costa e Édison Carneiro. Os seus primeiros romances foram "O País do Carnaval" (1931), "Cacau" (1933) e "Suor" (1934). Casou-se em 1933, com Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma filha, Lila.
 
Jorge Amado formou-se em ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito no Rio de Janeiro (em 1935), mas nunca exerceu a profissão de advogado. Em 1939, foi redator-chefe da revista "Dom Casmurro". De 1935 a 1944, escreveu os romances "Jubiabá", "Mar Morto", "Capitães de Areia", "Terras do Sem-Fim" e "São Jorge dos Ilhéus". Exilou-se politicamente no estrangeiro devido ao regime ditatorial do presidente Getúlio Vargas, tendo viajado pela América Latina e vivido na Argentina e no Uruguai (1941-2). Ao voltar, em 1944, separou-se de Matilde Garcia Rosa.
 
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), redigiu a secção "Hora da Guerra", no jornal "O Imparcial" (1943-4). Mudando-se para São Paulo, dirigiu o diário "Hoje" (1945). Anos depois, no Rio, participou na direção do semanário "Para Todos" (1956-8). Em 1945, foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), por São Paulo, tendo participado na Assembleia Constituinte de 1946 e na primeira Câmara Federal posterior ao Estado Novo. Nessa condição, foi responsável por várias leis que beneficiaram a cultura. Em 1945 casou-se com Zélia Gatai.
 
De 1946 a 1958, escreveu Seara Vermelha, Os Subterrâneos da Liberdade e Gabriela, Cravo e Canela. Em 1947, no ano do nascimento de João Jorge, o seu primeiro filho, o PCB foi declarado ilegal e os seus membros foram perseguidos e presos. Jorge Amado teve que se exilar com a família em França, onde ficou até 1950, quando foi expulso. Em 1949, morreu no Rio de Janeiro a sua filha Lila. Entre 1950 e 1952, viveu em Praga, onde nasceu a sua filha Paloma. Em abril de 1961, foi eleito para a cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras.
 
Na década de 1960, lançou as obras Os Velhos Marinheiros (que engloba duas novelas, das quais a mais famosa é A morte e a morte de Quincas Berro Dágua), Os Pastores da Noite, Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos milagres. Nos anos 1970, publicou Teresa Batista Cansada de Guerra, Tieta do Agreste e Farda, Fardão, Camisola de Dormir.
 
As suas obras foram traduzidas para 48 línguas. Muitas foram adaptadas para o cinema, o teatro, a rádio, a televisão e até banda desenhada, não só no Brasil, mas também em Portugal, França, Argentina, Suécia, Alemanha, Polónia, Checoslováquia (atualmente República Checa e Eslováquia), Itália e Estados Unidos. Os seus últimos livros foram Tocaia Grande (1984), O Sumiço da Santa (1988) e A Descoberta da América pelos Turcos (1994). Além de romances, escreveu contos, poemas, biografias, peças de teatro, histórias infantis e até um guia de viagem.
 
A sua mulher, Zélia Gattai, é autora de Anarquistas, Graças a Deus (1979), Um Chapéu Para Viagem (1982), Senhora Dona do Baile (1984), Jardim de Inverno (1988), Pipistrelo das Mil Cores (1989) e O Segredo da Rua 18 (1991). O casal teve dois filhos: João Jorge, sociólogo e autor de peças infantis; e Paloma, psicóloga.
 
Jorge Amado morreu perto de completar 89 anos, em São Salvador da Baía. A seu pedido, foi cremado, e as cinzas colocadas ao pé de uma mangueira na sua casa.
 
A obra de Jorge Amado mereceu diversos prémios nacionais e internacionais, entre os quais se destacam: Estaline da Paz (União Soviética, 1951), Latinidade (França, 1971), Nonino (Itália, 1982), Dimitrov (Bulgária, 1989), Pablo Neruda (Rússia, 1989), Etruria de Literatura (Itália, 1989), Cino Del Duca (França, 1990), Mediterrâneo (Itália, 1990), Vitaliano Brancatti (Itália, 1995), Luis de Camões (Brasil, Portugal, 1995), Jabuti (Brasil, 1959, 1995) e Ministério da Cultura (Brasil, 1997).
 
Alguns livros mais conhecidos:
 
 
«A história de amor do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá escrevi-a em 1948, em Paris, onde então residia com minha mulher e meu filho João Jorge, quando este completou um ano de idade, presente de aniversário; para que um dia ele a lesse. Colocado junto aos pertences da crinça, o texto se perdeu e, somente em 1976, João, bulindo em velhos guardados, o reencontrou, dele tomando finalmente conhecimento. Nunca pensei em publicá-lo. Mas tendo sido dado a ler a Carybé por João Jorge, o mestre baiano, por gosto e amizade, sobre as páginas datilografadas desenhou as mais belas ilustrações, tão belas que todos as desejam admirar. Diante do que, não tive mais condições para recusar-me à puclicação por tantos reclamada: se o texto não paga a pena, em troca não tem preço que possa pagar as aquarelas de Carybé. O texto é editado como o escrevi em Paris, há quase trinta anos.» Londres, agosto de 1976.
 
 
 
Quando faz a sua rentrée literária, em 1958, com a publicação de Gabriela, cravo e canela, quase surge um novo Jorge Amado, face à conotação mais politizada dos seus primeiros romances. É claro que não apaga, pura e simplesmente, os vínculos com a sua obra anterior. Mas é outro o olhar que dirige às coisas do mundo e da vida. Permanece socialista, mas acentuando, sempre com maior ênfase, o qualificativo "democrático". Gabriela, de resto, é um regresso  ao chamado "ciclo do cacau", ao universo de coronéis, jagunços, prostitutas e aldrabões de variado calibre, que desenham o horizonte da sociedade cacaueira. No caso, à rica localidade de Ilhéus da década de 20, ansiosa por progresso, entre bares e bordéis. A perspectiva, no entanto, é claramente distinta. Antes que se articular em função da utopia marxista, o livro vale pela sua atualidade. E é uma explosão, uma folia de luz e cor e som e sexo e riso. O sucesso é imenso. E a trama do romance vai-se desprender das letras, da moldura tipográfica, para se tornar em filme, telenovela, fotonovela, banda desenhada, canção.
 
Fonte bibliográfica utilizada:
Fundação Casa de Jorge Amado [Em linha]. Sem data. [Consult. 2012-09-09].
Disponível na www: http://www.jorgeamado.org.br/ >.